É dificil perceber o que nos leva a ser o que nos tornamos.
O porquê das decisões e caminhos que tomamos, dos risos e das lagrimas que
deixamos transparecer, como se houvesse sempre algures uma plateia atenta a
pontuar a convicção com que caracterizamos a personagem que julgamos ser. E
actuamos de tal forma que acabamos por apagar das nossas breves memórias o
facto de que tudo isto não passa de uma encenação, e , de leve, nos bate sempre
a porta o dia em que nas paginas envelhecidas do nosso guião já as nossas falas
se esbatem com o branco do papel. E aí... aí já pouco há a fazer. Aí sentimos o
vazio da nossa existência e ao olhar ao espelho pouco conseguimos identificar
senão as marcas e cicatrizes de outro alguem a esboçarem-se na nossa pele.
E agora o caminho que deixamos às nossas costas já nos é
estranho e mal iluminado. Os planos e sonhos que tinhamos minuciosamente
calculado para o futuro já não parecem tão correctos, novas variaveis e erros
se multiplicam à equação e algebra nunca foi realmente o nosso forte.
A escuridão que até então ia, ligeiramente, acompanhando o
nosso progresso, ocultando uma a uma as nossas pegadas no passado ameaça agora
abater-se também sobre o presente... e, em breve, o futuro se vai fundir com
tudo o resto.
Outrora houve alguém que, como um técnico de luzes
controlando a iluminação dum palco numa noite de estreia, fez sentir a sua
presença, mantendo sempre os nossos passos e dialogos bem iluminados.
Outrora, sim. Hoje, estamos sozinhos e a plateia esconde-se no silêncio guardando os seus aplausos para o final da peça.
Outrora, sim. Hoje, estamos sozinhos e a plateia esconde-se no silêncio guardando os seus aplausos para o final da peça.
É dificil perceber o que nos leva a ser o que nos tornamos.
Uma palavra mal dita? Um passo fora do foco?
Dificil é ver a cortina fechar com tanto ainda por dizer.